Outro dia comecei
Uma conversa interessante
Com um pássaro falei
A uma altura estonteante.
Parece de ficar pasmado
Mas estava no cimo do prédio
Que depois de tanto tempo empoleirado
Deve morrer de tédio.
“Morrer de tédio? Eu deves-te estar a passar
Tu é que és aquele homem que sempre sonhou voar.”
Sim mas tu não te esqueças que a não ser aqui não sabes pensar,
Quanto mais falar...”
“Como é que podes isso dizer
Se no nosso mundo nunca hás-de viver...”
“Viver nesse mundo imundo
Onde comem minhocas,
Onde não ligam aos vossos quando passa a defunto...”
“Imundo o meu mundo?
Vocês com as vossas engenhocas
É que nos tiram as minhocas
E nos estragam o nosso lar
E o sitio onde podemos voar, o ar”
“Tens razão passarinho
Que apesar de viveres num ninho
Sabes o dizes
E sabem como querem ser felizes
E nós só estragamos o vosso sonho
E depois ficas a pensar: e agora onde me ponho?”
"Ora aí está caro vizinho
Que vives por baixo do meu ninho
Acho que deviam ver de diferente maneira
A nossa vida, que nos passam para uma caixa de madeira
Para destruir montanhas para fazer por exemplo uma pedreira.
Precisamos de viver
E isso, tu deves saber
Por isso vê lá o que consegues fazer
Para melhorias se poder ver."
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